Quando acordou, Winston teve a sensação de ter dormido muito tempo, porém ao olhar para o relógio antiquado verificou que eram apenas oito e meia da noite.
Era um capricho e nada mais,
Doce como um dia de abril,
Mas seu olhar azul de anil
Roubou para sempre a minha paz!
Pelo jeito a canção piegas continuava fazendo sucesso. Ainda era ouvida em toda parte. Resistira à “Cantiga do ódio”. Julia acordou com a melodia, espreguiçou-se deleitosamente e saiu da cama.
“Estou com fome”, disse. “Vamos fazer mais um pouco de café. Que droga! O fogareiro apagou e a água está fria.” Pegou o fogareiro e deu uma chacoalhada. “Acabou o querosene.”
“O velho Charrington deve ter um pouco para nos emprestar.”
“O gozado é que eu tinha certeza de que estava cheio. Vou me vestir”, acrescentou ela. “Parece que esfriou.”
Winston também se levantou e vestiu-se. A voz cantarolava, incansável:
Dizem que o tempo tudo cura
E que no fim sempre se esquece,
Mas risos e choros — até parece
Que a vida passa e eles perduram!