1984 (português)

1.

Ele não sabia onde estava. Talvez no Ministério do Amor, mas não havia como ter certeza.

Estava numa cela sem janelas, de teto alto e paredes cobertas de reluzentes azulejos brancos. Lâmpadas ocultas inundavam o espaço com uma luz branca, e havia um zumbido baixo e constante que ele achava que devia ter alguma coisa a ver com o suprimento de ar. Um banco, ou uma prateleira de largura apenas suficiente para que a pessoa se sentasse corria ao longo da parede, com a porta como única interrupção, de um lado, e, na parede oposta, um vaso sanitário de madeira sem assento. Viam-se quatro teletelas, uma em cada parede.

Sentia uma dor surda na barriga. Estava assim desde que o haviam jogado num carro fechado e levado embora. Mas também estava com fome, uma fome feroz, que o atormentava. Devia fazer vinte e quatro horas que não comia, se não fossem trinta e seis. Até agora não sabia, talvez nunca viesse a saber, se havia sido preso de manhã ou à noite. Desde então, não recebera nenhum alimento.


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