1984 (português)

Winston permaneceu mais alguns minutos deitado. O quarto estava escurecendo. Virou-se para a luz e ficou admirando o peso de papéis de vidro. A fonte inesgotável de interesse não era o fragmento de coral, mas o próprio interior do vidro. Havia tamanha profundidade ali, e no entanto o vidro era quase tão transparente quanto o ar. Era como se a superfície do vidro fosse o arco do céu, encerrando um mundo minúsculo em sua atmosfera completa. Winston tinha a sensação de que seria capaz de entrar ali e de que na verdade estava ali dentro, ele, a cama de mogno, a mesinha de abas dobráveis, o relógio, a gravura de aço e o próprio peso de papéis. O peso de papéis era o quarto onde ele estava, e o coral era a vida dele e a de Julia, fixadas numa espécie de eternidade no coração do cristal.

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