1984 (português)

5.

A cada etapa de seu período de detenção, Winston sabia, ou tinha a impressão de saber, em que ponto do edifício sem janelas se encontrava. Talvez houvesse pequenas diferenças na pressão atmosférica. As celas em que fora espancado pelos guardas ficavam no subsolo. A sala onde O’Brien o interrogara ficava num dos andares mais altos, perto da cobertura do edifício. O lugar onde estava agora ficava vários metros abaixo da superfície da terra, no ponto mais fundo a que era possível chegar.

Era um espaço mais amplo do que o da maioria das celas em que estivera, só que mal reparava no que havia a seu redor. Tinha a atenção inteiramente voltada para duas mesinhas bem à sua frente, ambas forradas com feltro verde. Uma estava a apenas um ou dois metros dele; a outra, mais afastada, perto da porta. Tinham-no amarrado a uma cadeira, com nós tão firmes que era incapaz de mover o corpo, inclusive a cabeça. Uma espécie de almofada cingia-lhe a cabeça por trás, obrigando-o a olhar para a frente.

Permaneceu alguns instantes a sós; depois a porta se abriu e por ela entrou O’Brien.

“Uma vez você me perguntou o que havia no Quarto 101. Eu lhe disse que você já sabia a resposta. Todos sabem. O que há no Quarto 101 é a pior coisa do mundo.”

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